Fotografia de Matt Black. Modesto, California. USA. 2014. © Matt Black | Magnum
Algumas imagens morrem dentro de nós. Outras, morremos dentro delas. Matt Black viaja pelos Estados Unidos mostrando bolsões de pobreza. Sua fotografia é áspera, contundente e soa como a boa poesia marginal. Aquela que fala diretamente mas ao mesmo tempo esconde um jogo de significados que exige um leitor atento.
Nenhuma fotografia brilha por si só. A totalidade de seu encanto se dá no encontro com um olhar tão atento quanto o do fotógrafo. Muitos não gostam de Bresson ou Salgado, Dorothea Lange ou Nair Benedicto, mas este não gostar se baseia na falta de repertório cultural.
"O trabalho do fotógrafo é revelar o que está escondido". Diz Matt. Infelizmente, mesmo uma grande história ou uma grande fotografia pode se tornar nada se não há um público minimamente preparado. Porém, o fotógrafo nunca deve se entregar ao analfabetismo imagético simplificando seu olhar para aproximá-lo de um entendimento. O conteúdo deve vir acompanhado de relevante efeito estético. Caso contrário seu dizer soará apenas como um grito em meio a uma multidão gritando. O destaque que uma fotografia tem é revelar-se interessante esteticamente, bela, provocadora, instigante, sem doar-se por completo ao olhar alheio mas, num trato tácito, agregar ao universo do leitor. Mas para isto acontecer é necessário um punctum estético, uma fisgada, uma ferida aberta na alma de quem vê a ponto de abandonar esta visada seja ainda mais doloroso do que refletir sobre o conteúdo da imagem.
O fotodocumentarismo, contemporâneo ou não, visa sempre uma reflexão ampla sobre o dito pelas linhas e tons do papel. Sua imagem fecunda nossos pensamentos e nos liberta de nossas amarras pequeno burguesas. A fotografia não soará aqui como um grito em meio à turba. Mas como um sussurro de nossa consciência.