Para odiar Paris é necessário não amar a arte. Paris foi feita para o amor e não me refiro somente ao amor dos amantes que circulam pela, tão bem denominada, Cidade Luz. Paris é, antes de mais nada, dos artistas e de seus amores. A cidade em si é a musa, a inspiração e a matéria prima para todos que respiram ou labutam arte.
Comigo não foi diferente. Desembarquei em Paris acompanhado de Bresson e Doisneau, de Brassai e Picasso, de Boubat, Martine Franck e Sophie Calle. Ou seja, Paris lhe exige o máximo pois está acostumada à genialidade. Andar pelas ruas de Paris é ser convocado pelos Deuses da Fotografia a abandonar a mediocridade. Tudo inspira e exige. "Não querias o cenário perfeito? Pois aqui está, a sua frente!" Qual desculpa dará se não houver uma mísera foto convincente. Ou pior, a régua que mede paris poderá revelar a farsa que é seu olhar. Cá entre nós, quando se é uma pessoa séria sempre aparecer, de repente, a ideia maluca de ser um farsante. E que lugar melhor para ser desmascarado do que Paris?
Não me entendam mal mas fotografar o que foi fotografado por Bresson, Doisneau, Brassai e Calle me parece, ingenuamente, chover no molhado. Por melhor que seja sua imagem, por mais contemporânea seja sua leitura, você estará fadado ao segundo time. E essa ideia que poderia me desanimar foi o pensamento que me motivou ainda mais. Pois o que está perdido, perdido está! Não há compromisso em uma batalha perdida. Então me convenci a viver a pequena glória de ser apenas mais um mortal pelas ruas de Paris. Deixei os Deuses tranquilos. Eu, Osvaldo, assumiria minha visão pequena e estrangeira do Olimpo.
Andei, a partir dai, com a leveza de um menino que brinca a primeira vez com o tão desejado brinquedo. Penetrei as ruelas parisienses, seus Bistrôs e cafés, sua carne e alma, seus dias e noites. Perdi-me por vielas desconhecidas e por entre uma multidão deslumbrada de estrangeiros que, como eu, exercitavam seu prazer estético.
Paris é uma cidade em camadas. Sinto que há dezenas de cidades invisíveis dentro da cidade real. Dimensões apenas atingidas por velhos espíritos que ainda trafegam por suas ruas. Lembrei-me de Barthes e de seu amor pela fotografia. Desejei tê-lo conhecido assim como ter sentado à mesa com Brassai em seus humorados diálogos com Picasso. Man Ray e Lee Mueller devem ter se beijado no Quartier Latin enquanto Doisneau fotografava outro casal de frente ao Hotel D´Ville. Percebi o quanto Wood Allen em seu Meia noite em Paris, foi surpreendido pelos mesmos desejos.
Tirei inúmeras fotos em Paris. Mas tenho imenso carinho por esta, simples e que me rendeu enorme bronca - mas em francês - no Museu Picasso. Uma abertura separava suas rampas. Por si só a geometria me atraía. Mas o destino lhe dá aos fotógrafos pequenos presentes. E foi como um presente que um pequeno garoto parou dentro de meu quadro, sem me ver, e dando a composição o toque necessário para ser merecedora de Paris.
Osvaldo Santos Lima
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