Para refletir: Ame livros e não lentes! | Blog da Omicron

24 de junho de 2017


Fotógrafos normalmente são fetichistas em relação ao equipamento fotográfico.

Acredito que a indústria sempre desejou e alimentou este fetiche que segue modas e tenta vender um avanço tecnológico, com o qual você não pode mais viver sem dia após dia.

Conhecer o equipamento, gostar de tecnologia, ler os manuais, tudo isso faz bem ao fotógrafo.

Porém, a operacionalidade da técnica em nada ajudará quando este profissional for exigido intelectualmente por duas áreas tão distintas e importantes: a estética fotográfica e o marketing (posicionamento, área de atuação, planejamento de comunicação, divulgação, entre tantas outras coisas). 

Poderia passar dias aqui discorrendo sobre o desafio da estética fotográfica e como ela se mistura com todas as estéticas anteriores à fotografia. Literatura, jornalismo, dança, gravura, cada gesto intelectual humano não deve ser desprezado. O fotógrafo deve estar aberto ao conhecimento e todas as formas de manifestação da psíque humana. Entretanto, a maior parte dos estudos e cursos de fotografia foca num objetivo raso: o de formar um (e muitas vezes mal) técnico fotográfico. Um operário do aparelho como bem descreveu Vilém Flusser.

O operário repete o que o aparelho lhe entrega como possibilidade. Agrega a esta programação somente quando um novo hardware lhe é confiado. Uma lente nova, um anel de macro, ou um simples filtro. Opera a fotografia como um funcionário público que repete o status quo e desenvolve uma curiosidade desfocada sobre à realidade.

Assim, chega a dominar a câmera mas não se torna um bom fotógrafo. Domina um estatuto restrito de acessórios, mas lhe falta a capacidade de entender seu cliente e de adaptar esteticamente sua imagem para seu público-alvo, seu target.

Torna-se, infelizmente, um mero operador de um equipamento, assim como um metalúrgico. Seu desprezo pela literatura, pela arte, pela dança, pela música o afasta da essência manifestada em arte do ser humano. Cria-se um fotógrafo míope cujo o foco seletivo o faz crer na 24-70mm 1:2.8, mas não em Graciliano, Pessoa, Machado ou Cervantes. Ao fotografar outro ser humano o faz sem perceber a história, a geografia, os medos e anseios de quem posa a sua frente.

Deseja se comunicar mas aprendeu a falar somente ao atendente da BHphoto.com ou o muambeiro da Paraguai. Pouco entende que o marketing e a estética exigem, antes de mais nada, capacidade de enxergar o ser-humano sob uma ótica cultural ampla.

Não basta "saber dirigir"cinco ou seis poses, conhecer algumas luzes e até ser um expert em técnica se o que lhe falta é a densidade do conhecimento e não apenas um saber fazer programado.

Saudações fotográficas, 
Osvaldo Santos Lima
Professor Diretor da Omicron Escola de Fotografia 




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