Todos sabemos que estamos numa época em que a fotografia se tornou o nosso “novo caderno de anotações”.
Usamos a câmera do celular como apoio à nossa memória tão cheia e tão bombardeada de novas informações a todo instante: um produto que queremos lembrar o nome, o telefone de um estabelecimento que queremos contatar, o conteúdo de uma aula que queremos lembrar - mas não anotar - e assim por diante.
A fotografia como rememoração sempre existiu, mas não da maneira como tem se apresentado nesta última década.
Outro fenômeno já muito estudado e comentado é o da selfie.
Sorrisos, caretas e “duck faces” para as lentes. Quantas vezes já vi casais jantando em absoluto silêncio até que se saca o smartphone e, quase que por magia, afloram-se sorrisos, risadas e poses? A consciência de permanência imagética parece ser capaz de induzir as pessoas a vestirem uma perfeição e felicidade que mal cabem naquele momento: todos são felizes e vencedores, jovens e ousados, inteligentes e antenados, bonitos e sarados.
Na fronteira da imagem se vive uma vida idealizada e, como todo ideal, distante da realidade ordinária.
Mais do que um mero “bloco de notas” ou ode ao ego, a fotografia também é a ferramenta com a qual milhares de artistas se comunicam com o mundo. Ela é uma das linguagens mais contundentes para a expressão de nossos desejos artísticos.
Graças ao registro fotográfico, rompemos com o figurativismo pictórico, dando aos europeus no Séc. XIX a visão de como seria o “além mar” em terras distantes. E é esta mesma fotografia que ensinou ao mundo a força da perspectiva e da representação
fotodocumental.
Para muitos, o ato de fotografar pode ser tão ingênuo quanto o de escrever um lembrete para alguém comprar o pão. Mas para outros é uma necessidade: é através do que veem no visor que expressão sua presença íntima no mundo. Desejam mais do que “pão quente”. E nesta fome insaciável, a fotografia se apresenta como um alimento não só nutritivo, como também essencial.
Você pode estar se perguntando: “Neste mundo onde somos bombardeados com conteúdos visuais a todo instante e que a fotografia é usada para distintas finalidades, como eu posso começar um trabalho pessoal, íntimo e que expresse meu discurso sobre o mundo?”. Pois tenho três dicas:
1. Pense sobre qual história visual você quer compartilhar com o mundo. Pesquise sobre o assunto e as maneiras que poderá contar essa narrativa;
2. Procure espaços de discussão sobre fotografia, cinema, arte e problemáticas contemporâneas. Existem inúmeros espaços dedicados ao compartilhamento de informação de qualidade. Gaste seu tempo com coisas boas, com bons “alimentos” e em boa companhia, que afinarão seu olhar sobre a história visual que deseja contar;
3. Apenas comece e conte esta história.
Não existe uma fórmula mágica, uma câmera encantada, um livro que diga tudo ou um curso que lhe transforme em um(a) fotógrafo(a) artista. E talvez, esteja aí a graça do uso da fotografia como meio de expressão pessoal: buscar respostas às nossas angústias artísticas. Não dizem que “a jornada é melhor que o destino”? Eu diria até que a própria jornada é o destino. E quem precisa de destinos quando há no caminho tanta beleza?
Saudações fotográficas,
Osvaldo Santos Lima
Diretor da Omicron Escola de Fotografia