O que deu errado? Por que o sucesso não vem para todos.

27 de outubro de 2022

O sucesso não vem para todos. Lamento dizer que aprendi isso em meus mais de 30 anos de docência. Em sala de aula sempre tentei oferecer o meu melhor. Conteúdo bem estudado, exemplos contextualizados e frequentemente assistindo os alunos fora dos horários de aula. Mas, mesmo que todos tenham recebido de forma igual o mesmo conteúdo, o que determinou o sucesso de alguns e a grande dificuldade de outros? É o que pretendo abordar neste texto.

O conteúdo.

Quando comecei a minha carreira tinha em mente que o saber era o mais importante em qualquer profissão. Dominar a técnica. Conhecer profundamente a sua área. Entender como realizar um trabalho digno de remuneração e admiração. Sim, arrisco dizer que tinha razão mas não totalmente. O "Saber" solitário cria apenas um erudito. Desconexo da realidade e do mercado e seu trabalho tende a ser admirado como um objeto estético, uma reflexão autoral profunda até, porém, para quem deseja a profissionalização na fotografia em áreas aplicadas - Eventos sociais, publicidade, jornalismo, fotografia institucional etc - o saber técnico e estético é insuficiente.

Claro que ele é a base. Edificamos uma carreira baseado em nossos saberes. Mas, por experiência afirmo, o que se sabe de nada vale sem a disciplina produtiva exigida para a democratização de nosso conhecimento. Conheci gênios que colocaram as suas ideias em gavetas. E gavetas não agregam à sociedade. Gavetas não estimulam lembranças, não inspiram, não servem como alavanca para a melhoria social. Ideias devem ganhar o mundo. E aí que entra a grande questão da disciplina produtiva.

A disciplina produtiva.

Vi inúmeros alunos que faziam um curso como quem passeava num shopping. Descomprometidos com seus sonhos ou, infelizmente, sonhando um sonho errado. Pois sonhar sem que se dedique para a realização pouco acrescenta e muito frustra. Vinham à aula, estavam ali de corpo presente, mas só se animavam quando o assunto os interessava plenamente. Escolhendo as palavras do professor como quem escolhe feijão, separando os grãos, colocando de lado "saberes" desconexos de seu prazer de aluno. O espaço de aprendizagem não devia retirá-los de seu conforto. Pelo contrário. Devia proporcionar mais e maior conforto ao final de tudo quando alcançassem o sucesso! Pois, pela mente de grande parte, o sucesso vem com o certificado. Automaticamente.

Mas esta mágica não acontece assim. Os vícios de sala de aula normalmente se repetem extra classe. A falta vira descomprometimento. A desculpa a eterna muleta do deixa para depois. A não entrega do trabalho o início do hábito de não findar seus processos. O que quero dizer? Apenas que nada muda quando nos formamos em um curso. Apenas mudamos de status. Formados podemos nos dizer isso ou aquilo. Mas os bons e maus hábitos, cultivados com o tempo, irão temperar nosso futuro.

Na Universidade, quando orientava os TCCs, percebi que alunos que pouco se dedicaram ao curso, no exato momento do fechamento das cortinas, na última fala, no derradeiro instante do curso eles mergulhavam em uma piscina de prontidão e plena consciência de seus afazeres. O último semestre do curso iria redimir todos os pecados. A banca de conclusão seria a vitória sobre a injustiça de o terem jogado desde criança em um banco escolar e exigido estudo, disciplina e dedicação enquanto o mundo pedia brincadeiras, viagens e sofá.

Mas, como diz minha mãe: "Marmelada na hora da morte mata." O que prontamente era respondida que qualquer coisa na hora da morte mata. Até o arrependimento. A disciplina produtiva é o que garante ao não gênio o sucesso e ao gênio sua genialidade. Saber todos nós precisamos saber. Conhecer os meandros da sua profissão se faz necessário. Mas garanto que vi muitos gênios perdidos em hábitos pouco eficazes para a sua carreira e, assim, tendo dificuldades extremas de alcançarem o sucesso profissional. Na mesma quantidade vi alunos que começavam de forma mediana mas se interessavam pela matéria. Perguntavam, buscavam saber o porquê e estudavam além do espaço da escola. Alunos que terminavam o curso aliando saber e disciplina produtiva. Conhecimento e hábito. Mas para alguns ainda faltava algo. Aquele tempero que transforma a receita e a faz sua. Uma identidade mercadológica.

A identidade mercadológica.

Eu sei. Sou disciplinado. Produzo mas tenho dificuldade de vender. Por que? O mercado precisa saber quem você é. Para que veio. Por que te escolher e não outro. Quem é você na fila do pão? Pois bem, o saber técnico e estético garante a você realizar o trabalho mas não o fazem ultrapassar a barreira de sua gaveta. Você precisa comunicar. E comunicar começa com um planejamento de carreira, de seu negócio e de sua identidade comercial. Pois, posso gritar aos quatro cantos que fotografo e não ser ouvido. Uma das razões é que estamos todos em um mercado cheio de concorrentes. Alguns muito pouco capacitados, outros excelentes, mas mesmo os ruins criam ruído. Imagine um local aonde todos gritam! A quem você irá responder? E aí que entra o primeiro passo para que seu grito se diferencie dos demais: crie uma identidade mercadológica. Antes de planejar seu negócio saiba o que seu negócio é ou quer ser e esteja preparado para aparar arestas e reconstruir sua identidade.

A mutabilidade é natural em uma sociedade extremamente tecnológica como a nossa. Inevitável ter que mudar algo. E isso não fere quem somos pois, no fundo, a metamorfose é uma característica da identidade comercial. Porém, nascer elefante e querer virar borboleta pode ser feito mas custará um esforço cruel para trazer sua nova imagem à sociedade. Portanto, responda sinceramente, por que você está nesta empreitada chamada fotografia. Por que não se rendeu ao sofá? Por que saiu de casa para fazer um curso? Por que gostou mais desta ou daquela disciplina? E, ao buscar estas respostas, terá começado a construir seu mosaico identitário.

Planejar, planejar e planejar.


Sei fazer. Tenho disciplina. Sei quem sou. Então chegou a hora de impactar os outros com seu grito. Mas antes de encher os pulmões de ar você deve planejar, planejar e planejar.

Nada permanece de pé por sorte ou vocação. O planejamento exige papel, estudo e tempo. Deve começar em paralelo ao estudo da técnica e da estética. e, ao encontrar a sua identidade, você estará pronto para mapear o mercado e trabalhar sua comunicação atrelada a um planejamento de negócio. Talvez este seja o momento de você buscar um profissional da administração. Ou, se quiser, estudar para entender que seu grito só será ouvido se tiver cumprido algumas etapas que descrevi: Saber fazer cultivando bons hábitos no intuito de mostrar ao mundo quem você é e, assim, permitir que a sociedade lhe remunere a altura de seu sucesso.

O contrário é fácil e reside no contentamento de inventar desculpas e ligar a TV.

Osvaldo Santos Lima
Professor e fotógrafo
Fundador da Omicron escola de fotografia
e Artis Coworking.








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