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Comecei cedo na fotografia documental. Inspirado por fotógrafos como Salgado, Milton Guran, Nair Benedicto entre tantos outros monstros sagrados da fotografia brasileira. Mas um livro foi fundamental para eu começar a entender o que significava este ofício de constante diálogo com a realidade. "Olhares refletidos, diálogo com 25 fotógrafos brasileiros" do colecionar Joaquim Paiva.

Paiva era um colecionador antes da moda de se colecionar fotografia. Um homem apaixonado pela imagem e muito a frente do seu tempo. Talvez uns 50 anos a frente de todos nós que parecíamos caipiras com câmeras na mão. Mas dessa nossa brejeirice brasileira foi que a fotografia brasileira se destacou. Salgado fez sua carreira longe de nossa terra mas seu olhar sempre foi comprometido com a América Latina. Vide o seu maravilhoso livro "Outras Américas". Aqui a fotografia documental permaneceu atrelada ao fotojornalismo e ao desejo de poucos em retratarem a nossa realidade.

Tive o prazer de ter sido aluno ou conhecido em bienais, seminários, encontros alguns dos grandes fotógrafos documentais. Salgado, Mario Cravo-Neto, Nair Benedicto, Orlando Azevedo, Zé de Boni, Walter Firmo, Evandro Texeira, Claudio Edinger, Antônio Saggese, Luis Humberto e outros tantos igualmente significativos. De alguma forma eu parecia inconscientemente perseguir a lista de entrevistados de Joaquim Paiva em seu livro. Tornei-me um viajante pelo conhecimento alheio. Um admirador da fotografia documental e, com o tempo, um documentarista de corpo e alma.

Formei-me em Comunicação Social pela UFPR e ministrei aulas de fotografia por 15 anos na instituição. Em meu mestrado dediquei-me ao estudo da fotografia. Mas confesso que sempre existiu uma lacuna, uma enorme lacuna que nem o ensino formal universitário, tão pouco o Mestrado eram capazes de preencher. Uma lacuna que apenas a câmera e a poética de seu visor foram capazes de ocupar quando se encontravam com a "realidade" e não com festas, eventos ou produtos. A câmera se tornava um escudo e uma arma. Uma lâmina afiada capaz de recortar o mundo. Eu, mesmo que não quisesse, havia me transformado em um documentarista. 

Com os anos fui compreendendo que apenas podemos ser aquilo que o destino reserva para nós. A fotografia documental fazia todo sentido. Seus objetivos estavam em conexão ao meu senso de justiça social, de liberdade intelectual e estética. Entretanto, tal liberdade cobra uma disciplina de pensamento para que se possa transformar uma ideia em poderosa narrativa visual. Pois fotografar é muito mais do que tirar fotos bonitas! Na verdade é alinhavar imagens que sejam, pelo conjunto, fortes o suficiente para servirem de suporte à realidade.

Ser um fotógrafo documental é fotografar com a alma.

Hoje, com a experiência que acumulei como fotógrafo e professor, ajudo jovens documentaristas a encontrarem sua fotografia. A compreenderem que o terreno do documentário pode conter armadilhas para quem entra nele desavisado. É mais ou menos como emprestar um pouco da maturidade ganha nesses 34 anos de fotografia para quem deseja desenvolver um trabalho documental e não sabe como começar.

Sinto que preciso devolver o que as dezenas de mestres que tive e os inúmeros dias envolvido com a fotografia me ensinaram. É a lei da reciprocidade! Recebi muito e não seria justo guardar o que sei apenas para a minha fotografia. Até porque todos nós compartilhamos o mesmo amor pela fotografia documental e sua intensa capacidade de retratar o que somos e vivemos.

Ao criar o Curso de Fotografia Documental eu apenas dei vazão a este desejo de compartilhar e de aprender, pois o professor sempre aprende com seus alunos, com a forte comunidade que a Omicron está construindo em torno da fotografia.

Quem sabe algum dia desses você será meu aluno, minha aluna, meu colega nesta jornada em busca da história perfeita.

Saudações fotográficas,

Osvaldo Santos Lima

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Curso de Fotografia Documental - https://omicronfotografia.com.br/curso/curso-online-de-fotografia-documental
Live sobre Fotografia Documental -  https://youtu.be/r28etn1x3To 

Fotografia do ensaio "Cuba, a ilha melancólica" - Osvaldo Santos Lima