Quando cheguei em Brumadinho para acompanhar os trabalhos de resgate das inúmeras vítimas o que vi me lembrou de Mariana-MG. Pouco tempo antes eu havia fotografado o mesmo tipo de crime ambiental também em Minas. Para piorar a situação o criminoso era o mesmo: A Vale, antiga Vale do Rio Doce. O mesmo rio que um dia emprestou o nome para a companhia e hoje sofre a consequência da ganância empresarial predatória da empresa.
Mariana era, do ponto de vista ambiental, mais grave. Brumadinho superou em perdas de vidas humanas em muito o acidente de Mariana. Os dois somados transformaram a paisagem de uma Minas Gerais já abatida pela mineração. Minas Gerais cada vez mais é um buraco à céu aberto. Mas como fotografar algo que se expande para além da linha do horizonte? Como abordar uma história que envolve tanta dor?
Em busca de respostas para tais questões eu sai a campo. E a resposta veio por um fortuito encontro com um grupamento de Bombeiros do Estado de São Paulo que ajudava nas buscas. Parte da história que eu queria registrar estava marcada na pele suja pela lama, nas marcas de expressão e no olhar concentrado dos Bombeiros. Estavam ali representando o que há de melhor no espírito humano: Nossa capacidade de sacrifício em busca do bem coletivo.
Em Mariana a paisagem foi a protagonista. Minhas imagens se enamoraram do caos. Revelaram como uma incrível onda de lama pode, em pouco tempo, mudar a paisagem do Distrito de Bento Rodrigues ou marcar, definitivamente, a vida de milhares de famílias. A alma de uma localidade foi tatuada pelo minério que joga toda uma população no grande dilema de ver o mesmo metal que lhes da sustento ser capaz de violar suas casas, ruas e criações.
Mas em Brumadinho a geografia dos rostos contavam a história de uma forma vigorosa. Cada ruga preenchida pela lama, cada poro tampado, cada parte da pele queimada indicava a esperança de encontrar sobreviventes. Mesmo que a natureza insistisse em dizer não. Mesmo que a lógica cartesiana quisesse matar a esperança. Mas não somos seres cartesianos quando nos jogamos na lama em busca de vida. Não somos seres cartesianos quando entramos em um avião em busca de retratar o caos instalado pela ganância humana. Éramos ali, parte de uma irracionalidade ética que nos faz não medir esforços em busca de uma humanidade perdida debaixo de um lamaçal metafórico.
A fotografia do Bombeiros, representada nesta imagem, foi uma das únicas em minha vida de documentarista que fiz com tele-objetiva. Queria com isso destacá-lo do entorno árido e castigado pela dura luz de Minas. Queria, e cabe a você me dizer se consegui, homenagear a todos que por dever de ofício ou não, estavam ali para ajudar.
A fotografia documental tem um caráter social inegável. Por mais que existam fortes vertentes contemporâneas que se abrigam em outras poéticas é na seara dos conceitos sociais que o documentário demonstra sua grande força.
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Osvaldo Santos Lima